QUEM NOS
TRARÁ A PRIMAVERA?
«Por vezes, como disse Goethe, o nosso destino parece
uma árvore de fruto no Inverno. Ninguém diria que aqueles ramos hão-de ficar
verdes e florir de novo, mas temos confiança, nós sabemo-lo.»
Depois de cada Inverno, nunca sabemos os ramos que em nós voltarão a florir, nem quais teremos perdido para sempre.
É preciso essa dor de nos deixarmos abrir, não ceder à tentação da fuga.
É pelos outros que nos conhecemos e encontramos.
O amor é um acto de fé. Torna-nos vulneráveis e expostos, abre fendas por onde
podem penetrar o sofrimento e a dor, ou o calor que traga de novo a Primavera
ao nosso destino para que se cumpra, para que de novo a árvore rebente e
floresça, para que cada fruto estale e o sumo inunde a boca que o tocar.»
Henrique
Manuel
Depois de cada Inverno, nunca sabemos os ramos que em nós voltarão a florir, nem quais teremos perdido para sempre.
Nunca sabemos a duração de cada Inverno em nós: no
coração de alguns parece durar eternamente.
Perguntamos: quem nos trará a Primavera? Quem nos
devolverá a inocência dos pássaros e a frescura das manhãs?
É preciso gritar e deixar que a violência do grito
rebente no coração, como as trovoadas rebentam na terra as águas de Maio.
É preciso essa dor de nos deixarmos abrir, não ceder à tentação da fuga.
Fechados, tornamo-nos estranhos a nós
próprios, enlouquecidos e sós, perdemo-nos profundamente, morremos devagar.
É pelos outros que nos conhecemos e encontramos.
Construímo-nos em relação, num diálogo marcado pelo
amor, pela dádiva, pela tarefa de realizar um projecto de vida em que o outro
se constitua como referencial absoluto.
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